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Memória Cinematográfica

Por Tanael Cesar Cotrim


Onde Está Mabuse no Cinema e na Vida?

A era de ouro do cinema alemão mora nos anos 20. Somente nos 60 o país se voltaria a uma cinematografia consistente em termos estéticos e em forma de sistema. Não apaguemos as ações extraordinárias, e autoral, particular, dos anos 30 e entre-guerras. O expressionismo como fenômeno amplo das artes em geral legou obras e conceitos visualmente determinantes para a abordagem cinematográfica. Arrastou uma legião de realizadores pela história do cinema. De Epstein a Godard, de Eisenstein a Laugthon, de Welles a Lynch. Nos seus primórdios, também configurado como uma estrutura industrial, um sistema de produção de bem simbólico, um quarteto salta aos olhos: Fritz Lang, diretor (cineasta é invenção francesa), Thea von Harbou, roteirista (e atriz), Rudolf Klein-Hogge, ator, e Erich Pommer, produtor. Robert Wiene inaugura com o Gabinete do Doutor Caligari (1919), Friedrich Wilhelm Murnau aplica o conceito ao moderno mundo em transformação sobretudo em A Última Gargalhada (1924), mas é o quarteto que cria uma atmosfera centrípeta do estilo no cinema.

Metropolis (1927) é considerado o grande filme de Fritz Lang. Inovador, futurista, utópico. M – O Vampiro de Dusseldorf (1931) é uma estonteante estreia no cinema falado. Metalinguístico, misterioso, construidor do novo sem desconstruir o antigo. O Testamento do Doutor Mabuse (1933) revela um poder de síntese do meio expressivo. No entanto, o mesmo Mabuse, mas como O Jogador (1922), contém, além do refinamento estético e do entrelaçamento coeso e coerente entre história e narrativa, entre conteúdo e forma, um diálogo direto com o próprio tempo histórico. A matéria do real elaborada no tempo próprio. Pulsante assim. Atual de energia. Vigoroso do presente. O filme não apresenta, representa, mimetiza uma realidade. Ele constrói uma realidade para dialogar com ela, para colocar a relação essência e aparência em posição dialética, ser e parecer sem o peso do veredito e do juízo da verdade. É um filme de investigação psicológica da personagem, também, mas, sobretudo, de uma existência coabitada pela História e determinada pelo crivo social. A identidade, prova Mabuse, não é da ordem subjetiva, mas ontológica, inserida no espaço e tempo social.

E Mabuse reinventa-se a cada disfarce. Assume nos olhos equívocos a dupla personalidade constante. Um cenho franzido não revela, sugere. E a força centrífuga de sua expressividade é generosamente servil ao princípio estético do todo. Não há megalomania. Cada gesto transcorre para o filme. O Mabuse de Rudolf Klein-Hogge é um fantástico, cuja plástica erra de propósito entre a magia (subjetividade) e a catarse (sociológica) para o ser ontológico no tempo.

Doutor Mabuse: O Jogador (1922)

Produção: Erich Pommer

Direção: Fritz Lang

Roteiro: Thea von Harbour

Fotografia: Carl Hoffmann

Música: Robert Israel


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